22/03/2010

Quem é você de VERDADE?


Dentro de cada uma de nós existe uma semente adormecida que carrega nossa verdadeira essência. Despertá-la é o caminho mais seguro para sermos felizes e realizadas em todos os aspectos da vida.

Eu não desenvolvo, sou.” A frase, dita pelo mestre da pintura Pablo Picasso, pode parecer um pouco pretensiosa à primeira vista. Mas, para o psicólogo americano James Hillman, reconhecido internacionalmente por suas pesquisas em psicologia analítica, corrente baseada nos estudos de Carl Gustav Jung, ela ilustra perfeitamente a ideia de que todas nós temos, em nosso interior, um gênio a ser despertado. Que fique claro: não estamos falando de uma super-heroína com capacidades extraordinárias, e sim de dons inatos que precisam ser identificados e desenvolvidos ao longo da vida para que encontremos nossa real vocação.

As palavras de Hillman, autor de O Código do Ser – Uma Busca do Caráter e da Vocação Pessoal (ed. Objetiva), traduzem a essência do seu trabalho, tão bem talhada na teoria da Semente do Carvalho. Segundo ela, da mesma maneira que a totalidade de um imenso carvalho está contida em sua pequena semente, o ser humano traz em si as potencialidades do que pode vir a ser. Também chamado de vocação, destino, caráter ou imagem inata, esse caldo de características é o que determina nossa singularidade e, de acordo com o autor, já está presente antes mesmo do nascimento.

“Mais cedo ou mais tarde alguma ‘coisa’ parece nos chamar para um caminho específico. Essa ‘coisa’ pode ser lembrada como um momento marcante da infância, quando uma urgência inexplicável, um fascínio, uma estranha reviravolta dos acontecimentos teve a força de uma anunciação: isso é o que eu devo fazer, isso é o que eu preciso ter. Isso é o que eu sou”, explica o autor.

O tal chamado, ou dedo do destino, de acordo com Hillman, vai além das características genéticas ou da influência do meio. É um mistério que nos leva a buscar a trama básica de nossa história. Para explicar sua teoria, o autor se baseia no Mito de Er, descrito por Platão em A República, no qual relata que nossa alma, antes mesmo de nascer, recebe um daimon (espírito ou anjo), que determina uma imagem ou um padrão a ser vivido por cada um de nós. Quando chegamos à Terra, esquecemos de tudo, mas o daimon nos lembra, pois ele é o portador de nosso destino.

Reconhecer o tal chamado, afirma o psicólogo, é primordial para a existência humana e conseguir alinhar a vida a ele é a melhor maneira de encontrar a felicidade. “O chamado pode ser adiado, mas com o tempo ele aparece, pois o daimon nunca vai embora”, afirma.

“Hillman preconiza a existência de algo que antecede e determina até mesmo qual óvulo será fecundado por qual espermatozoide, em determinado casal. Em outras palavras, quando nascemos, já trazemos a possibilidade de nos tornarmos nós mesmas. E a vida dará todos os sinais para que a individuação aconteça”, explica a psicóloga junguiana Sâmara Jorge, de São Paulo. “A forma como trilharemos esse caminho dependerá das experiências vividas, tanto interna, quanto externamente. É um processo em constante movimento e transformação”, ela diz.

De acordo com os seguidores de sua teoria, é na infância que os primeiros sinais da vocação aparecem. “Competente é aquele que faz o que lhe compete. Alguns têm o dom da música, outros são líderes natos ou ótimos leitores. Não existe alguém que não saiba fazer nada e já vemos isso na criança. Se formos capazes de dar os estímulos certos, o ‘gênio’ irá florescer”, afirma a terapeuta Lúcia Rosenberg, de São Paulo, responsável pela revisão técnica do livro. “Nesse sentido, a família, a escola, os valores e a cultura interferem, pois, se a semente é plantada em solo árido, ela não germina.”

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